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20 de outubro de 2009

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SOBRE A CALIGRAFIA


Sobre a caligrafia


Arnaldo Antunes-20/03/2002


Caligrafia.

Arte do desenho manual das letras e palavras.

Território híbrido entre os códigos verbal e visual.

— O que se vê contagia o que se lê.

Das inscrições rupestres pré-históricas

às vanguardas artísticas do século XX.

Sofisticadamente desenvolvida durante milênios pelas tradições chinesa, japonesa, egípcia, árabe.

Com lápis, pena, pincel, caneta, mouse ou raio laser.

— O que se vê transforma o que se lê.

A caligrafia está para a escrita como a voz está para a fala.

A cor, o comprimento e espessura das linhas, a curvatura, a disposição espacial, a velocidade, o ângulo de inclinação dos traços da escrita correspondem a timbre, ritmo, tom, cadência, melodia do discurso falado.

Entonação gráfica.

Tais recursos constituem uma linguagem que associa características construtivistas (organização gráfica das palavras na página) a uma intuição orgânica, orientada pelos impulsos do corpo que a produz.

Assim como a voz apresenta a efetivação física do discurso (o ar nos pulmões, a contração do abdómen, a vibração das cordas vocais, os movimentos da língua), a caligrafia também está intimamente ligada ao corpo, pois carrega em si os sinais de maior força ou delicadeza, rapidez ou lentidão, brutalidade ou leveza do momento de sua feitura.

A irregularidade do traço denuncia o tremor da mão. O arco de abertura do braço fica subentendido na curva da linha. O escorrido da tinta e a forma de sua aborção pelo papel indicam velocidade. A variação da espessura do traço marca a pressão imprimida contra o papel. As gotas de tinta assinalam a indecisão ou precipitação do pincel no ar.Rastos de gestos.A própria existência de um saber como o da grafologia, independentemente de sua finalidade interpretativa sobre a personalidade de quem escreve, aponta para a relevância que podem ter os aspectos formais que, muitas vezes inconscientemente, constituem a "letra" de uma pessoa.

O atrito entre o o sentido convencional das palavras (tal como estão no dicionário) e as características expressivas da escritura manual abre um campo de experimentação poética que multiplica as camadas de significação.Além disso, suas linhas, curvas, texturas, traços, manchas e borrões, mesmo que ilegíveis, ou apenas semi-decifráveis, podem produzir sugestões de sentidos que ocorrem independentemente do que se está escrevendo, apenas pelo fato de utilizarem os sinais próprios da escrita.

O A grávido de O.

Érres e ésses atacando Es.

.A multiplicação de agás.

Rios de Us e emes e zês.

Esqueletos de signos fragmentados.


Dança de letras sobrepostas possibilitando diferentes leituras.

Paisagens.

Horizontes ou abismos.

4 comentários:

angela disse...

Que abordagem interessante e original, muito boa.
beijos

A Torre Mágica | Pedro Antônio de Oliveira disse...

O seu blog é muito lindo mesmo!

Te espero de novo na torre!

Um abração! :)

Pedro Antônio
A TORRE MÁGICA

Mariana disse...

Que lindo blog! E que bom que pessoas como vc se interessam tanto pela educação. Comecei a cursar biologia, mas abandonei, pois vi que não era a minha área.
Seu blog está de parabéns! Passe no meu, e pegue o meu award.

Tudo de bom!!

Unknown disse...

Parabéns pelo maravilhoso texto. Sempre vc nos brinda com coisas lindas. Bjão

 
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